Olhar Crítico - Comunica Digital

Um olhar sobre economia, educação, filosofia e política.

ISSN 1808-785X

O filme1 “Zuzu Angel” e a ditadura pós 1964: apontamentos de uma historiadora em formação2

Elda Alvarenga

Elda Alvarenga, Doutora em Educação PPGE/Ufes. Acadêmica do Curso de Licenciatura em História da Ufes e coordenação colegiada do Nupeges (Núcleo interisntitucional de Pesquisa em Gênero e Sexualidade.

O filme retrata a história de Zuzu Angel, estilista brasileira que teve seu filho raptado, preso, torturado e morto pelos agentes da ditadura militar no Brasil. Além de todas essas barbaridades, lhe foi negado o direito de velar e enterrar seu filho, pois, uma das estratégias da ditadura no Brasil era não assumir os seus crimes e, para isso, tinham formas de sumir com os corpos e com as provas das barbaridades cometidas.

O filme nos faz reviver esse período da história brasileira por meio dos relatos de Zuzu. Nota-se como as forças armadas atuavam em conjunto para manter o regime e aniquilar toda e qualquer forma de resistência. Também ilustra as divergências e conflitos que existiam entre esses agentes e as formas que as pessoas que eram contrárias ao regime construíam para se proteger do horror da ditadura. Infelizmente, muitas dessas estratégias eram descobertas e muitos/as militantes caíram em decorrência de suas denúncias sobre elas.

Chama atenção também o fato de parte da população ajudar a repressão denunciando os/as supostos comunistas que lutavam contra o regime. Esse fato relaciona-se com o fato de como os governos autoritários utilizavam-se da propaganda para convencer a população de que a ditatura protegia o Brasil do mal eminente que o comunismo poderia causar à nação.

O filme também tem o mérito de mostrar, no contexto mais geral daquele período no Brasil, a história de uma mulher, considerando o apagamento conferido às mulheres na historiografia convencional. Ele nos convida a refletir sobre os desdobramentos que a repressão aos jovens causou, sofrimento não somente para eles/elas, mas, também, para as suas famílias. Nota-se, também, as formas violentas e tipificadas de tortura às mulheres que eram presas, a exemplo da nora de Zuzu, que teve os seis arrancados.

Como historiadores/as em formação, a obra nos incita a pensar possibilidades de pesquisas que contribuam para dar visibilidade à história das mulheres no período da ditadura brasileira, pois, ainda persiste muitas lacunas e apagamentos na historiografia tanto no que se refere ao contexto geral da ditadura, quanto na escrita da história das mulheres naquele momento relevante. Certamente, este é um desafio que precisa ser enfrentado pelos/as pesquisadores/as. Por fim, resta registrar que cabe a nós contribuir para a escrita da história, dando conta de dar visibilidade aos excluídos da História, como defendido por Michelle Perrot.


Notas

1 - Zuzu Angel é um filme de drama biográfico brasileiro de 2006 dirigido por Sérgio Rezende e estrelado por Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira, Camilo Bevilacqua, Luana Piovani e Leandra Leal. A produção é de Joaquim Vaz de Carvalho, a produção executiva de Heloísa Rezende, a trilha sonora de Cristóvão Bastos, a direção de fotografia de Pedro Farkas, a direção de produção de Laís Chamma e Mílton Pimenta, a direção de arte de Marcos Flaksman, o figurino de Kika Lopes e a edição de Marcelo Moraes (Wikipédia, a enciclopédia livre).

2 - Texto produzido na disciplina História do Brasil Contemporâneo, ministrada pela professora Aline Vasconcelos do Curso de História EAD da Universidade Federa do Espírito Santo.

COMPARTILHE: