Olhar Crítico - Comunica Digital

Um olhar sobre economia, educação, filosofia e política.

ISSN 1808-785X

Mulheres e mídia: a banalização do preconceito

Elda Alvarenga

Quando paramos frente à televisão é comum observarmos em sua grade de programação uma série de posturas, linguagens e atitudes preconceituosas. O que destoa do pensamento único, capitalista, masculino e branco é tratado como desvio de comportamento. A mídia é um excelente instrumento de manutenção da ideologia dominante, às vezes de modo sutil, quase que imperceptível, e outras de forma explícita. Minha intenção neste texto é fazer um recorte e discutir como as mulheres aparecem ou são representadas na mídia, mais especificamente na televisão.

Como é comum, mas não aceitável, as mulheres aparecem nos programas de televisão como o sexo frágil, emocional e financeiramente dependente da figura masculina, seja do pai, irmão, namorado, marido ou colegas de trabalho. É representada também como fútil, aquela que, por não saber o que é trabalho (quando se referem às mulheres que não trabalham fora de casa), gasta mais do que o necessário, é consumista e exageradamente vaidosa. As contradições aparecem quando ao mesmo tempo em que a mulher ideal é a dona de casa, pacata, que atende a todas as necessidades da família, também é responsável para atender aos apetites sexuais do marido. Assim ela deve, depois de um dia de trabalho fora de casa, dar conta de realizar as tarefas domésticas já que estas são a toda hora postas como tarefas da mulher dentro das famílias, satisfazer os desejos sexuais do marido. As mulheres que fogem a essa regra, apesar de desejadas fisicamente, aparecem como as que fogem do papel sagrado da mulher na família: o de educar os filhos e cuidar da casa e do marido.

No que se refere às tarefas de manutenção da vida, ou seja, as tarefas domésticas, são as mulheres que aparecem na televisão como as únicas responsáveis pela sua execução. É comum ouvirmos, tanto na mídia como no dia-a-dia das relações familiares, mulheres e homens referindo-se aos homens que fazem as tarefas domésticas como os bons maridos/namorados/companheiros, porque “ajudam” as mulheres nas tarefas domésticas. Como as atividades domésticas são tidas como naturalmente femininas, os homens que as executam “ajudam” as mulheres na labuta do dia-a-dia.

Além disso, é requerido das mulheres todos os esforços possíveis para se tornarem e se manterem sempre sorridentes e belas. Não para a sua própria auto-estima, mas para a satisfação dos maridos/namorados/companheiros. Nesse sentido ressalta-se ainda que atualmente, o ideário de beleza que a mídia produz e reproduz é a mulher branca, magra, alta, bem provida de seios. O exagero com que se ressalta isso na televisão tem levado milhares de mulheres cada vez mais jovens a realizarem intervenções cirúrgicas, muitas vezes desnecessárias e pior, que colocam a sua saúde em perigo. É a ditadura da beleza levando mulheres e meninas à busca enlouquecida pelo padrão de beleza divulgado na mídia.

Como as relações de gênero na sociedade capitalista é algo que a muito me inquieta, é, para mim, impossível não prestar atenção no modo como as mulheres são representadas na mídia. E, mais importante, não dá para não nos indignarmos diante da banalização e inferiorização do sexo feminino na mídia. O lado mais perverso, para mim, da reprodução na mídia das relações machistas na sociedade são os desenhos e programas infantis. Nestes as meninas aparecem, assim como as estrelas do cinema, como aquelas que sempre precisam ser salvas pelo herói, masculino, sensato, fisicamente forte. Além do constante incentivo à violência nos desenhos infantis, estes reforçam nos meninos e meninas, os papéis esteriotipados, preconceituosos e desiguais das mulheres na nossa sociedade. Assim vemos um menino sofrendo com a dor de um machucado, mas prendendo o choro porque aprendeu que meninos não choram.

Desmistificar essas concepções machistas, preconceituosas e deseducadoras é uma tarefa de todos/as. Precisamos criar o hábito de questionar os programas que assistimos na TV, manifestar nossa crítica e fazer ações afirmativas para que esses programas busquem refletir mais adequadamente o papel da mulher na sociedade, e configurar esta como um ser humano, diferente sim dos homens, mas em nada inferior a estes.

Há quem diga que "a arte imita a vida", mas é preciso (e possível) que filmes, novelas, músicas, assumam um papel de resistência ao machismo, constituindo-se assim como um instrumento educativo para a emancipação das mulheres. Para isso a postura crítica, de manifestação e de boicote contra esses programas é um importante passo na luta pela democratização da mídia.

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