Olhar Crítico - Comunica Digital

Um olhar sobre economia, educação, filosofia e política.

ISSN 1808-785X

Rasgar o véu do templo

Helder Gomes

Final de um ano bastante conturbado nos impõe reflexões arrojadas. Parece não haver mais espaço para a já costumeira vacilação, agora travestida na ideia de promoção de um Capitalismo Inclusivo, em substituição a um suposto Capitalismo Selvagem. É certo que a guerra foi novamente declarada, no desespero da grande depressão econômica mundial, procurando impor um regime de exploração ainda mais rigoroso sobre as classes trabalhadoras, quebrando todos os instrumentos de proteção social construídos no período pós-guerras no afã de amortecer a rebeldia popular. Mas, acreditar na possibilidade de alguma nova conciliação, ou, de recuperar o tal consenso keynesiano, num momento em que os que comandam de fato os mercados estão construindo bankers de proteção militar pessoal, é, mais uma vez, acreditar que o Papai Noel viria, enfim, nos redimir, como diria o poeta.

Mesmo que o bom velhinho apareça novamente de vermelho, sabemos que, por trás da cantilena da mídia proprietária de que tudo estaria se resolvendo, está o mercado predador, mais desprovido ainda de qualquer escrúpulo. Então, melhor uma guinada mais audaciosa em nossa trajetória de lutas, porque os caras não estão para conversa. Precisamos organizar e mobilizar instrumentos de solidariedade entre os cada vez mais diversificados extratos das classes trabalhadoras, no campo, na cidade, com atenção à necessidade de fomentar as lutas numa dimensão internacional.

O sentido das lutas emancipatórias significa substituir o atual modelo de Estado. Isso se faz a partir de um plano estratégico de construção de formas alternativas de poder popular efetivo, o que requer novas relações de produção em substituição às forças predatórias do capital.

No lugar do individualismo, a perspectiva de sujeito histórico coletivo, em luta permanente. É preciso sair do automático das práticas cotidianas, pois, a rotina irreflexiva tem sido o principal instrumento de nosso condicionamento ao agir espontâneo, isolado, sem planos. Recuperar nossa capacidade de reflexão coletiva impõe rasgar o véu do templo, sair do pedestal de nossa suposta ilustração, rumo à difusão de conhecimentos efetivamente emancipatórios, concebidos na interação com os saberes acumulados na história dos processos de luta, não no conforto dos altares, dos laboratórios e dos gabinetes protegidos.

Para além dos dogmas, da propaganda sem conteúdo objetivo, a construção do ser humano novo, livre e coletivo, a partir dos ensinamentos de sua própria luta social pela vida. A interação das ciências com o saber popular pode tornar mais viável a difusão de formas mais humanas de organização do trabalho e de proteção da natureza. Dar visibilidade às lutas populares de resistência ao avanço da destruição mercantil e, ao mesmo tempo, aprender com elas, são, portanto, passos fundamentais na demonstração da viabilidade da organização das forças vivas dos povos, colocados como alvo prioritário na atual declaração de guerra pelo capital predatório.

Ser humano novo
Requer fundição
De sonhos e planos

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